Na pandemia, para se solicitar o auxílio emergencial, requisitado por mais de 39 milhões de famílias em 2021, a base da interação entre pessoas e o sistema foi um aplicativo. Cada vez mais pessoas interagem com os algoritmos através de aplicativos. Essas interações são mediadas por algoritmos que tomam as decisões, decisões que podem excluir pessoas.

Muitos de nós já estivemos em uma situação similar: querer registrar um momento importante. Puxar o smartphone do bolso. Abrir o aplicativo da câmera e tocar a tela. Ir além da imagem salva como arquivo digital e decidir postá-la numa rede conectada com o resto do mundo, que, ao mesmo tempo, distribui a foto e mostra, em uma linha do tempo misteriosamente organizada, imagens recém-captadas ao redor do planeta, curadas especificamente para nós. Tudo isso em questão de segundos.

Embora executar essa ação tenha se tornado praticamente um reflexo nos dias de hoje, a evolução tecnológica que nos levou a essa solução esconde inúmeras camadas de complexidade, desde chips de computador microscópicos em nossos bolsos até uma rede de satélites posicionados fora do planeta Terra.

Em 2012, o escritor Venkatesh Rao que “nem sempre percebemos quando o futuro chega”. Para ele, estamos cercados por uma “normalidade manufaturada”, na qual mecanismos foram desenvolvidos para nos impedir de perceber que tecnologias antes tidas como impossíveis já estão ao nosso redor.

Na base de muitas dessas invenções estão os algoritmos, que, em essência, são “uma sequência de instruções para resolver um determinado problema”, explica o cientista da computação Virgílio Almeida.

De 2011 a 2015, Almeida foi secretário nacional de Políticas de Informática do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Em 2022, à frente da Cátedra Oscar Sala, o professor trabalhará no projeto Interações Humano-Algoritmo.

Em essência, o projeto tem duas motivações: estudar a diversidade dos tipos de algoritmos em operação, com impacto cada vez maior na sociedade e nas atividades diárias dos cidadãos, e analisar sua complexidade dentro de diferentes tipos de sistemas.

“Imagine um sistema que toma decisões que causam um impacto sobre a vida das pessoas. Essas decisões podem levar a diferentes futuros, inclusive, futuros negativos”, ilustra o professor, esclarecendo que, muitas vezes, o sistema em questão é “opaco”, ou seja, não sabemos como ele funciona de fato.

“Quando pensamos nesses sistemas, não sabemos quem são os responsáveis por essas decisões, o que nos deixa em uma situação de perplexidade”, teoriza ele, citando as avaliações de crédito, cujos critérios nem sempre são claros para o solicitante.

Não por acaso, na pandemia, para se solicitar o auxílio emergencial, requisitado por mais de 39 milhões de famílias em 2021, a base da interação entre pessoas e o sistema foi um aplicativo. “Cada vez mais, estamos vendo que as pessoas interagem com os algoritmos através de aplicativos, de interfaces, de browsers. Todas essas interações são mediadas por algoritmos que tomam as decisões, decisões que podem excluir pessoas”, explica.

Na opinião do especialista, compreender os motivos e mecanismos por trás dessa exclusão se torna, dia após dia, crucial. “Percebemos um movimento grande de automação, de uso de inteligências artificiais, para serviços de saúde, por exemplo. Durante a pandemia, tivemos os chatbots da covid-19, que, por meio de um aplicativo, poderiam sugerir um determinado tratamento ou medicamento”, conta Almeida, ao reforçar que o processo envolvido nessa tomada de decisões não era transparente para os usuários.

By Iskra

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